Animism

FEMA Gallery – Cascais, 2025
Por Gabriela Melzer

A FEMA Gallery, em parceria com a Galatea, apresenta Animismo, primeira exposição individual da artista Gabriela Melzer (São Paulo, 1999). A exposição constitui-se de doze pinturas que atuam como um convite para que o espectador habite um espaço onde o visível e o invisível coexistem, e onde o tempo, a energia e a percepção se entrelaçam de maneira única. Gabriela Melzer vive e trabalha em São Paulo. Tendo morado em Nova York, pôde aprofundar seus estudos em pintura e desenho na The New School e na Art Students League. Esse percurso formativo ecoa na sua pesquisa artística, marcada pela criação de formas orgânicas que emergem da alternância entre o movimento e a cor. Em um contexto saturado pelo imediatismo e pela aceleração da informação e dos acontecimentos, Melzer busca instaurar um contraponto ao evocar o tempo dilatado da contemplação, no qual o olhar é convidado a repousar e explorar a fluidez das suas composições. Inspirando-se nas formas ao mesmo tempo aleatórias e ordenadas que encontramos na natureza — seus fractais, imperfeições e repetições — a artista constrói paisagens interiores que dialogam com o intangível e o inominável. Como em um jogo permanentemente aberto, a dança cromática e os contornos densos e arredondados de suas pinturas convidam o espectador a navegar pelos interstícios da pintura, onde cada desvio sugere novas camadas de significado.

Esse espaço visual concebido por Melzer é dinâmico: formas e cores se desintegram e se reorganizam continuamente, refletindo a impermanência da realidade. Cada tela se apresenta como um processo em aberto, em que o gesto pictórico não busca fixar um instante, mas captar uma energia em constante transformação. No rastro do abstracionismo lírico, a sua obra dissolve as fronteiras entre o físico e o etéreo, criando um campo sensorial no qual o espectador se vê imerso e desafiado a expandir sua percepção. As suas pinturas rejeitam qualquer resolução estática; a cada camada de cor, a cada sobreposição de forma, surgem novas possibilidades de leitura.

Sobre o processo de criação desta exposição, Melzer comenta:

“Aprofundando a minha pesquisa para a exposição, me dei conta de que a ideia de animismo enquanto crença de que todos os elementos presentes neste mundo podem ter alma conversa muito com o fluxo que eu exploro no meu trabalho. Nas pinturas que apresento, o animismo transparece, então, como uma espécie de motor, como uma força viva pictórica. O meu interesse foi investigar que movimento é esse, por que ele prende o olhar, como se dá esse jogo entre o espectador e as múltiplas telas que compõem cada obra e como elas podem ser apreendidas enquanto uma espécie de organismo vivo.”

O termo que dá título à exposição se manifesta, então, como uma presença vibrante em cada tela. Ecoando a crença de que não há separação entre o mundo espiritual e o mundo físico e que todas as coisas possuem alma e energia, o animismo de Melzer nos lembra que cada elemento carrega uma força própria, uma vitalidade que transcende a matéria. As cores, os gestos e os espaços entre as formas agem como intermediários entre o mundo sensível e aquilo que é invisível, oferecendo uma experiência que conecta o espectador a um campo de energias sutis. O animismo aqui não é apenas uma metáfora; ele é vivido na percepção da obra, que se revela como um organismo vivo, em que a matéria e o espírito coexistem, interagem e se transformam.

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