A Natureza do Gesto

FEMA Gallery – Cascais, 2025
Por Marcelo Lamarca
Curado por: Cynthia Neimi

Ancestralidade e sensibilidade estruturam a base da obra de Marcelo Lamarca. Para o artista a arte não é apenas uma celebração da natureza; é um convite para sentir a vida em toda a sua plenitude, um lembrete de que, mesmo no caos, há harmonia e que cada detalhe, por menor que pareça, carrega consigo o poder de transformar o todo. 

As cores que usa – vibrantes, ousadas, quase pulsantes – são reflexo da energia vital que sente quando cria, expressando o equilíbrio dinâmico da vida, onde o caos encontra harmonia. O resultado é um universo vivo, um portal para um lugar onde o natural e o imaginário encontram-se. 

O fazer artístico transborda de uma inquietação visceral, como se os sentimentos mais profundos fossem folhas agitadas pelo vento do universo e a poética transparece na linha entre o que é vivido e o que é admirado dissolve-se. Nas obras, não há apenas um retrato da natureza ou uma confissão do íntimo. 

Há um diálogo. 

“A natureza do gesto” reflete anos de elaboração. Em uma dialética íntima, que percorre o território dos encontros e também das dualidades - o sentir interno e o cosmos que cerca a todos os seres, a grande mãe natureza. 

Este trabalho refere-se à uma ponte fluida, onde a interioridade revela-se como reflexo da vastidão universal, e a natureza contemplada, torna-se extensão do corpo e da alma. E, ao observar essa arte, é como se nos tornássemos cúmplices dessa conversa. 

Se o gesto vem antes da fala, a natureza está mais próxima ao toque do que à palavra. 

O ato de fazer do movimento é a premissa para o desenvolvimento humano, e isso vem do desejo de ser. Reconhecemos na representação dos movimentos da natureza metáforas dos nossos próprios estados de espírito. 

Assim, a dialética não se encerra na criação do artista; ela continua no encontro com o espectador, onde o universal e o particular se encontram novamente – e tornam a transformar-se.